Geraldo J. Ballone
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Além das dificuldades que aparecem ao
tentarmos conciliar a sobrecarga dos afazeres de tudo aquilo que nos pedem e
que não tivemos coragem de dizer não, corremos o risco também de nos frustrarmos
ou deprimirmos diante da sensação de estarem se aproveitando de nós. Outras
vezes não conseguimos dizer não por temermos que, se recusarmos um pedido de
alguém, essa pessoa vai deixar de gostar da gente, ou por temermos que o outro
tenha alguma atitude agressiva.
Arranjando desculpas mentirosas é a
pior delas e não costuma funcionar por muito tempo. Um não, firme, incisivo e
ao mesmo tempo educado e gentil é a maneira que melhor funciona. Frases do tipo
“... gostaria muito de fazer isso para você, entretanto, infelizmente, já havia
marcado um compromisso anteriormente...” Ou então, “...gostaria muito de fazer
isso para você, entretanto, infelizmente, tenho que terminar algumas coisas
antes e não poderei fazer o que me pede da maneira como gostaria...” ou, por
exemplo “... eu teria imenso prazer em emprestar-lhe esse dinheiro se não
estivesse completamente duro no momento...”
Os reais motivos para o não devem ser
disfarçados por aquele que nega, tendo em vista dois fatores:
primeiro devido à
própria natureza humana e, em segundo lugar, o modelo dos papéis sociais. Vamos
explicar: O que poderia acontecer se disséssemos, com sinceridade o real motivo
para o não, tal como, por exemplo “... não me sentiria bem fazendo isso...” ou
ainda “... preferia não fazer isso que me pede...” O outro, tal como nós
mesmos, sempre se acha certo no direito de pedir, sempre acha que os demais
poderiam ser colaborativos, sempre acha que não custa nada aos outros fazerem o
que pedem, portanto, preservando o que achamos justos para nós, pareceremos ao
outro estarmos sendo arrogantes, egoístas, com má vontade e coisas assim.
Desista de achar que o outro entenderá e respeitará sua opinião sobre aquilo
que nos daria melhor bem-estar, principalmente quando nosso bem-estar contraria
o bem estar desse outro.
Em segundo lugar, o modelo dos papéis
sociais implicam em desempenharmos socialmente atitudes já esperadas no
contrato social. Dizer que não podemos fazer porque estamos sobrecarregados,
que estamos desconfortáveis de alguma forma, que estamos em alguma desvantagem
e por isso não podemos fazer o que nos pedem, embora até gostássemos de fazer,
terá sempre um efeito muito mais justificável do que não fazer apenas porque
não gostamos de fazer ou porque preferimos
não fazer. A sinceridade absoluta não é uma postura socialmente bem
compreendida, embora seja demagogicamente recomendada como mérito. A
sinceridade só tem mérito quando não contraria expectativas.
À primeira vista essa orientação pode
parecer um estímulo à mentira. Na realidade é mais um estímulo à convivência
social. Alguns psicólogos que tratam do assunto recomendam que a pessoa seja
assertiva, faça argumentações sinceras para não sofrer conflitos e não se achar
mentiroso. Mas nós estamos estimulando a convivência social e incentivando a
pessoa a dar-se bem com seu próximo.
Vejamos o caso de você dizer à outra
pessoa “... seja franco e sincero; você poderia me emprestar algum dinheiro?”.
O que você sentiria se, apesar de ter pedido (demagogicamente) sinceridade,
esse alguém lhe respondesse “...não, não empresto dinheiro à você porque não
quero emprestar, apesar de tê-lo...” ou então, “...não empresto dinheiro à você
porque tenho por princípio não emprestar dinheiro aos outros...”? No primeiro caso,
além de arrogante e egoísta, a pessoa parecerá também sovina, insensível e
desumana, apesar de responder com a pura verdade, no segundo caso, além de
arrogante (no direito de ser cheia de princípios), foi pior ainda por
considerar você, essa pessoa tão especial, simplesmente junto com todos “os
outros”.
Esse capítulo trata de APRENDER A
DIZER NÃO e não COMO DIZER NÃO. Como dizer não, todos já sabemos, mas aprender
a dizer não de forma a preservar nossa convivência com o próximo e, consequentemente,
conosco mesmo, precisa ser aprimorado. Na realidade, trata-se de uma maneira de
não fazer tudo o que nos pedem, sem ter que dizer não ostensivamente. Pode não
ser politicamente correto mas funciona.
Para dizer não,
algumas regras simples devem ser observadas:
1. Não comece
pedindo desculpas. Isso poderá sugerir um eventual sentimento de culpa.
2. Pergunte a si
mesmo se o pedido parece-lhe razoável e se você quer mesmo aceitá-lo ou não.
Sempre que tiver dificuldade em se decidir, provavelmente sua vontade sincera é
pelo não.
3. Se precisar de
mais detalhes, peça-os antes de decidir.
4. Se chegar à
conclusão de que deseja dizer não, faça-o sem rodeios.
5. Seja breve, dê
sempre uma explicação, mas que pareça mesmo uma explicação e não uma série de
desculpas.
6. Muitas vezes não
basta dizer não. Se desejar ajudar o outro (ainda que não queira fazer o que
lhe pediu), ouça com atenção o que ela tem a dizer, exponha o motivo de sua negativa
e veja se pode ajudar a encontrar outra solução para o problema.
Causas da dificuldade em dizer não?
Autoestima Baixa
Autoestima Baixa
Com prejuízo da autoestima, fato que
pode ocorrer tanto nos estados depressivos quanto nas personalidades com traços
mais introvertidos e sentimentais, geralmente a pessoa se percebe de maneira
autodepreciada. Normalmente essas pessoas acabam se escravizando pela opinião
dos demais a seu respeito.
Como todos nós temos uma tendência a
projetar nos outros nossas opiniões, ou seja, entendemos como se fosse deles
opiniões que são nossas, as pessoas com autoestima baixa acreditam que os
outros também vêm-nas negativamente. Quando nos sentimos chatos,
desinteressantes e pouco confiáveis, temos a nítida impressão de que os outros
também nos vêm assim. Uma tentativa (errada) de melhorar nossa imagem é
procurando atender nosso próximo em tudo o que ele quiser da gente. Isso gera
uma dificuldade enorme em dizer não.
Podemos tentar melhorar a autoestima
de várias maneiras. As duas principais são a medicamentosa, quando a autoestima
baixa é consequência de algum estado depressivo, ou a maneira comportamental,
quando se trata de um traço de personalidade.
Comportamentalmente podemos tentar
melhorar nossa autoestima fazendo uma lista das
coisas das quais nos orgulhamos. Quais nossos valores, nossas habilidades,
nossas coisas boas? Façamos uma lista de nossas transformações para melhor ao
longo dos anos. Todos nós temos coisas boas a lembrar, seja nosso próprio
crescimento pessoal, espiritual, material, seja termos simplesmente supera-lo o
medo de água e aprendido a nadar, seja o nascimento de nossos filhos, enfim,
listemos aquilo de bom que faz parte de nós ou que nos rodeia.
Lembremos que temos o direito de
sentir orgulho de nós mesmos, das coisas que conquistamos e da pessoa na qual
nos tornamos. Vamos adquirir o hábito de lembrar dessas nossas conquistas e
entender que se alguém tenta nos humilhar estará, na verdade, expondo os
próprios sentimentos de inferioridade. Vamos procurar entender que, na maioria
das vezes, nós é que estamos nos permitindo sentir humilhados e não sendo
humilhados de fato.
Medicamentosamente podemos melhorar a autoestima
quando nossa autoimagem negativa é consequência de alguma alteração humoral ou
afetiva, como são os casos, por exemplo, da depressão, do estresse, da tensão
ou do esgotamento.
Insegurança
Muitas vezes temos dificuldade em
dizer não, supondo que isso poderá resultar num severo prejuízo, como por
exemplo, a perda da amizade, do emprego, da admiração ou da simpatia. Quando é
nossa insegurança a responsável pelas dificuldades em dizer não, devemos
lembrar que se não confiamos em nós mesmos, nossa própria postura diante
dos demais poderá demonstrar esse acanhamento de
caráter.
E como deixamos transparecer aos
outros nossos sentimentos tão íntimos? Isso se chama comunicação interpessoal.
Uma pequena porcentagem de nossa comunicação com o próximo se deve ao discurso
ou à palavra. A maior parte dessa comunicação se deve à maneira com a qual as
palavras são ditas, se deve ao tom, timbre, frequência e entonação da voz e,
finalmente, à nossa mímica corporal. De um modo geral, acredita-se que apenas
7% de nossa comunicação se deve à compreensão das palavras, 13% dependem da voz
(entonação, etc) e 80% da linguagem corporal. Seja pelas palavras, pelo tom de
voz ou pela linguagem corporal, nossa falta de autoconfiança sempre será
anunciada.
Outra questão importante é o fato das
pessoas se sentirem muito ansiosas ao desconfiarem que os outros estão
percebendo sua falta de segurança. Para esses casos, a sinceridade talvez seja
a solução. Diferentemente do que foi dito acima, nestes casos alivia muito
sermos francos o suficiente para confessar ao outro estarmos sentindo grande
ansiedade neste momento. Isso demonstra, ao lado da confissão de nossa
ansiedade, uma coragem compensatória ao termo liberdade em anunciar estarmos
sim “nervosos”. Esse aspecto de nossa personalidade pode nos fazer parecer
altamente confiáveis aos demais.
Normalmente, o esforço para
dissimular um “nervosismo” acaba por gerar grande tensão
emocional, muitas vezes com repercussões físicas,
tais como dores de cabeça, de estômago, na nuca, tontura, falta de ar, etc., e
até sensação de desmaio nos casos mais sérios.
A insegurança também deve ser
abordada por duas medidas principais. Tal como a autoestima baixa, a
insegurança deve ser abordada de forma comportamental e medicamentosamente.
Comportamentalmente devemos pensar no desempenho de nosso papel social. Parecer
que estamos com fome pode resultar mais em comida que estarmos com fome sem
parecer, parecer que somos honestos rende mais crédito que sermos honestos sem
parecer.
Os papéis sociais têm muito a ver com
nossa linguagem corporal. A maneira como sentamos, como ficamos de pé, como
olhamos as pessoas nos olhos, como somos generosos com sorrisos e atitudes
amigáveis, enfim, como cuidamos de nossa empatia pessoal é fator decisivo para
transmitir uma imagem segura de si e, consequentemente, nos sentirmos realmente
seguros.
Ainda na questão comportamental,
nosso discurso não deve conter frases tais como, “...não posso..., nunca vou
conseguir..., não adianta...” Negatividade atrai negatividade, assim como
positividade atrai positividade. Frases mais positivas, tais como “...tenho
certeza de ... farei o possível...sou muito bom em...” ajudam a melhorar a segurança
transmitida e, consequentemente, a sensação de segurança pessoal.
Com otimismo confiamos mais em nossa
própria capacidade. Mesmo que as coisas nem sempre deem certo só porque somos
otimistas, pelo menos estará preservada nossa autoestima.
Sentimentos de
Culpa
A culpa é um dos sentimentos mais
incômodos e do qual a maioria de nós sofre em maior ou menor grau, seja por
algo que fizemos, seja por algo que deixamos de fazer. A sensação de culpa é,
inclusive, a maior responsável pelo receio que temos de dizer não. Em geral os
sentimentos de culpa só aparecem nessa sequência aqui colocada, ou seja, primeiro
a pessoa tem que ter autoestima baixa, depois tem que se sentir inseguro e,
finalmente, experimenta sentimentos de culpa.
Claro que todos nós cometemos erros
no passado, seja por coisas que fizemos e não deveríamos, coisas que fizemos
mal feito ou coisas que deveríamos e não fizemos. De certa forma, todos nos
sentimos culpados de alguma maneira (exceto os sociopatas). Entretanto,
conforme recomenda a sabedoria popular, “quando nos sentir pessimistas em
relação a situação atual, devemos nos sentir otimistas quanto as condições de
agir”. Todas essas atitudes comportamentais
para alívio do sentimento de culpa, também válido para a autoestima e
insegurança, só são eficientes quando não existe um transtorno afetivo ou do
humor concomitante (tipo depressão, estresse, esgotamento ou afins).
Dicas da melhor maneira de dizer não
Já que chegamos nesse ponto, onde
concluímos ser melhor dizer não às vezes do que viver angustiado por ceder em
tudo e para todos, mesmo contra nossa vontade, vamos ver quais seriam as regras
para um não bem dito e preservador de nosso bem estar.
1. Nunca comece a frase com a palavra NÃO. Embora
seja esse o resultado final de sua fala, deixe o outro descobrir por si mesmo,
durante seu discurso, que o resultado será NÃO, mesmo antes de você concluir
sua argumentação.
2. Use uma argumentação simples, objetiva mas que,
dentro do possível, faça o outro ter a mesma opinião caso estivesse em seu
lugar.
3. Jamais demonstre desconforto exagerado ao dizer
não; um certo constrangimento é sempre desejável mas, exagerar no
constrangimento não melhora a sensação de quem recebe o não e pode transmitir a
idéia de culpa.
4. Sempre que possível deixe a idéia de que concordaria com o pedido se
fosse possível, mas diante desse ou daquele impedimento, INFELIZMENTE, você não
ESTARÁ DISPONÍVEL.
Neste quesito pode ser aventada a possibilidade do
adiamento, do tipo “...talvez em outra ocasião...”
5. Mesmo depois da negativa, continue tratando o outro com a mesma (ou mais) gentileza com que vinha fazendo. Esse quesito é importante na medida em que algumas pessoas irritam-se profundamente com a ousadia dos pedidos dos outros. Não se irrite.
5. Mesmo depois da negativa, continue tratando o outro com a mesma (ou mais) gentileza com que vinha fazendo. Esse quesito é importante na medida em que algumas pessoas irritam-se profundamente com a ousadia dos pedidos dos outros. Não se irrite.
Orientação Cognitiva para começar a dizer não
Sempre é bom começar sabendo dos
maiores patrimônios de sua pessoa; o primeiro deles é a saúde, o segundo é a
felicidade e o terceiro a liberdade. Geralmente nós só damos valor a qualquer
um dos três quando os perdemos. De fato, é quase impossível pensar na
existência de um deles sem os outros, entendendo a saúde como bem estar físico
e mental.
Muito bem. Não sabendo dizer não,
estamos sujeitos às frustrações de sermos obrigados a fazer o que não queremos,
sujeitos ao esgotamento por sobrecarga, sujeitos à mágoa de nos sabermos
explorados, enfim, aborrecidos por não estarmos exercendo nossa liberdade plenamente.
Assim pensando, torna-se obvio a necessidade de privilegiarmos nossa saúde, bem
estar, felicidade e liberdade, sabendo ainda que de nossa saúde pode depender a
saúde de nossos entes queridos.
E aí ? vamos por em prática ? sentir -se mais leves e viver com qualidade?
TEXTO ADAPTADO – ANNA BEATRIZ
VALE
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